O Oscar 2021 foi a celebração da persistência cinematográfica por Rafael Santin

 

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entregou no último domingo (25/04/2021), os Oscars aos melhores filmes da temporada de 2020. A maior festa do cinema teve que se adaptar aos tempos de pandemia, mas não deixou de manter seu brilho, numa cerimônia dirigida para a televisão pelo cineasta Barry Sonnenfeld. A exibição teve a estrutura narrativa de exibição de um filme, com a estonteante Regina King, desfilando do tapete vermelho até o palco, acompanhada de trilha sonora e créditos com as estrelas que apresentariam a festa.

Em um ano em que a plateia teve que se afastar das salas de projeções, foi gratificante ver o talento de muitos que conseguiram concluir suas obras e exibirem seus projetos durante a temporada. Por esse motivo o discurso de Frances McDormand ao receber o prêmio de Melhor Atriz por “Nomadland”, me emocionou ao dizer “Um dia, leve todos que você conhece para um cinema, lado a lado naquele espaço escuro. E assista a cada filme que foi representado aqui esta noite”. Não vamos decepcioná-la.

O vencedor do Oscar de Melhor Filme do Ano, “Nomadland”, é o primeiro da história a ganhar esse título, tendo sua estreia ocorrendo apenas nos streamings (pela Gulu e Disney). As plataformas on line estavam tentando ganhar esse prêmio há anos. A Netflix era grande favorita em 2019 com o longa “Roma” de Alfonso Cuarón e em 2020 com “O Irlandês” de Martin Scorsese, porém ambos perderam a glória máxima para filmes produzidos para o cinema, “Green Book” e “Parasita” respectivamente.

Sem muitas alternativas, quase todos os 54 filmes concorrentes fizeram carreira home office. Além dos já citados prêmios de melhor filme e atriz, “Nomadland” também se consagrou como a melhor direção para a cineasta Chloé Zhao, reconhecendo sua visão introspectiva da história de uma mulher que perdeu tudo e precisou recomeçar a vida. Pensado para a exibição em tela grande, o longa é um triunfo de entrosamento entre direção, atuação e roteiro. Se você ainda não viu, não deixe de vê-lo quando os cinemas reabrirem.

A Netflix mais uma vez leva vários prêmios para Los Gatos, se consolidando como um dos maiores players de Hollywood. A gigante do streaming ganhou sete Oscars. Melhor Maquiagem e Melhor Figurino pelo tocante “A Voz Suprema do Blues”, Melhor Curta-metragem por “Two Different Strangers”, Melhor Curta de Animação por “If anything happens I love you”, Melhor Documentário por “Professor Polvo”, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte por “Mank”. Outra plataforma, a Amazon Prime Video recebeu seus primeiros Oscars pelo emocionante “O Som do Silêncio” nas categorias de Melhor Edição e Melhor Som. Acostumada a ganhar Emmys (premiação mais importante da televisão) a HBO também ganhou seus primeiros Oscars, por Melhor Ator Coadjuvante (Daniel Kaluuya) e Melhor Canção Original do filme “Judas e o Messias Negro”.

Seguindo sua estética cinematográfica, o último prêmio da noite surpreendeu muitos críticos. Anthony Hopkins superou as expectativas que eram para Chadwick Boseman e foi escolhido merecidamente o melhor ator do ano, pelo emocionante “Meu Pai”. O ator britânico já havia sido indicado seis vezes ao Oscar e já tinha vencido pela marcante atuação de “O Silêncio dos Inocentes”, em 1991. Em “Meu Pai”, ele vive um homem que luta contra a demência, história que também recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Outras duas mulheres fizeram bonito na noite de premiação. A jovem e promissora (entendedores, entenderão) Emerald Fennell, ganhou o concorrido Oscar de Melhor Roteiro Original, pelo moderno e intrigante “Bela Vingança”. Emerald estrelou a terceira temporada de “The Crown” e se mostra um nome que devemos acompanhar em seus próximos projetos. E por fim a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante a sul-coreana Yuh-jung Youn. Eu a conhecia de alguns filmes do Sang-soo Hong, como “Certo Agora, Errado Antes”, mas nesse filme de 2020, como coadjuvante, a atriz rouba a cena pelo belíssimo “Minari”, emocionando a todos com uma atuação avassaladora.

Ainda tivemos “Tenet” ganhando o Oscar de Melhores Efeitos Visuais e “Soul” como Melhor Animação. A 93ª edição do Oscar entra para a história, como a cerimônia da perseverança. Uma prova de que nem mesmo uma pandemia mundial, fará calar a voz da 7ª arte.

*Rafael Santin é cineasta, ator, produtor e roteirista.

SOBRE VIDAS e SOPHIA, longas metragens sob sua direção serão lançados em breve e já está em planejamento O AR QUE A GENTE RESPIRA, com captação prevista para 2022.

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