Nutricionista Roberta Carbonari fala sobre a necessidade de um atendimento nutricional onde o indivíduo seja o foco e não o seu peso

Dentre os grandes desafios da profissão nutricionista, hoje, talvez o maior deles seja dizer ao paciente que ele não receberá uma dieta de restrições, que naquele momento o acompanhamento nutricional não precisa de um cardápio prescritivo, visto que a ditadura do emagrecimento e da busca de uma estética perfeita, por meio da alimentação extremamente engessada, fora crescente na última década e o navegar contra a corrente gera sempre surpresa e resistência. Há de se ter um tanto de técnica e muita sensibilidade para acrescentar à anamnese baseada em histórico de doenças familiares e histórico alimentar do paciente, perguntas mais profundas e centradas no indivíduo como, por exemplo: “como você se sente?”, “o que te faz feliz?”, “o quanto você ama e cuida de tudo que já se tornou”? Centenas de aplicativos entregues à geração millenials (também conhecidos como a geração Y, nascidos entre 1979 e 1995), que prometem contribuir com a perda de peso, elaborar cardápios e contar calorias, podem ser consumidos com um tocar de dedos, no entanto, quando analisamos o que aconteceu efetivamente com a saúde nos últimos anos, apesar do aumento da conscientização social e inúmeras ferramentas disponíveis para controle alimentar e de peso, a obesidade tornou-se um grande problema global, e no Brasil, a frequência do excesso de peso, de acordo com os resultados da VIGITEL (2018), foi de 55,7%, e a frequência de adultos obesos foi de 19,8%. Ainda mais preocupante que os dados referentes à prevalência de sobrepeso e obesidade, são os índices de transtornos psiquiátricos atuais. As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças em indivíduos com faixa etária entre 10 e 19 anos, justamente a fase em que as preocupações com a autoimagem, a pressão pela estética corporal desejada e aceitação social aumentam exponencialmente. De acordo com pesquisas recentes (OPAS, 2018), metade de todas as condições de transtornos mentais começam aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada e, em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes, sendo o suicídio a terceira principal causa de morte dentre esta população. Muitas vezes, o primeiro apelo por ajuda na busca do cessar deste sofrimento vem mascarado pela busca do emagrecimento e do corpo perfeito nos consultórios de nutrição, sendo então o nutricionista, o primeiro a ter a chance de cuidar do que não fora explicitamente dito. A entrega de uma prescrição, pode se tornar, neste primeiro momento, mais uma pressão e frustração à esse indivíduo, que geralmente, mesmo tão fragilizado emocionalmente, se cobra por disciplina alimentar e transformação do corpo, colocando essa meta acima da importância real que ela tem em sua vida, e sobre inclusive sua saúde como um todo: o bem estar físico e mental. A nutricionista pós graduada em Terapia do Comportamento Alimentar e prestes a embarcar para uma imersão de treinamento em uma das maiores referências em tratamento de transtornos alimentares do mundo, o Australian Eating Disorders Centre, acredita que o profissional de saúde do presente, precisa buscar constantemente ampliar conhecimentos que vão além da dieta e controle alimentar na instrumentalização de seu atendimento. O indivíduo, definitivamente, não pode ser visto, cuidado e compreendido somente pelo que ele come. Saiba mais sobre a nutricionista Roberta Carbonari em seu Instagram: https://www.instagram.com/robertacarbonari