Tatuador português desmistifica cinco mitos sobre tatuagem que ainda confundem clientes

Tiago Salgado, especialista em realismo preto e cinza, alerta para equívocos comuns sobre dor, cicatrização, tinta e restrições médicas

A tatuagem consolidou-se como forma de expressão estética e cultural em diversos públicos, mas, mesmo diante da popularização e profissionalização do setor, uma série de desinformações ainda interfere na decisão de quem pretende marcar a pele. Do medo da dor às dúvidas sobre saúde, mitos resistem e podem atrapalhar a experiência de quem se aventura no universo da tatuagem.

Segundo dados da empresa americana Statista, mais de 40% dos jovens entre 18 e 34 anos nos Estados Unidos possuem ao menos uma tatuagem. Em Portugal, não há um levantamento nacional específico, mas a estimativa da Associação Portuguesa de Profissionais de Tatuagem indica crescimento contínuo na última década, especialmente entre o público feminino. Ainda assim, parte desse público chega aos estúdios carregando receios e suposições baseadas em informações ultrapassadas ou sem respaldo técnico.

Quem convive com esses mitos diariamente é o tatuador Tiago Salgado, de 29 anos, natural de Albufeira, no sul de Portugal. Especialista no estilo realista em preto e cinza, ele atende clientes de vários países europeus no Love Arte Tattoo Studio. Com trajetória nas artes visuais e formação em workshops com grandes referências  internacionais, ele construiu uma identidade própria reconhecida em eventos do setor.

“É comum que a pessoa chegue com muitas dúvidas, mas algumas delas são baseadas em informações que não fazem mais sentido. A desinformação pode gerar medo ou frustração, e isso compromete todo o processo”, afirma o artista.

Um levantamento da Rede Europeia de Segurança Química, vinculada à Comissão Europeia, mostra que 12% das pessoas que pensam fazer uma tatuagem desistem por medo de reações adversas ou preocupações com a dor. Para Tiago, o problema é menos técnico e mais cultural. “Falta uma comunicação honesta e direta por parte dos profissionais, mas também há uma lacuna educacional. Muita gente ainda se informa por boatos ou experiências alheias”, observa.

Com formação em vários cursos internacionais voltados à técnica do realismo em preto e cinza, Tiago venceu prêmios em convenções de tatuagem e já participou como artista convidado em diversos estúdios europeus. A vivência com públicos distintos reforçou, segundo ele, a importância de desmistificar o ofício. “A tatuagem precisa ser entendida como uma arte acessível e segura, desde que feita com os cuidados corretos. E o primeiro passo é desfazer os mitos”, reforça.

A seguir, o artista lista os cinco mitos mais comuns que encontra na sua rotina profissional, e explica por que é hora de deixá-los para trás.

  1. “Tatuagem dói sempre muito”

“A dor varia de pessoa para pessoa, e também depende da área do corpo. Mas a verdade é que a maioria das pessoas aguenta tranquilamente uma sessão de várias horas”, afirma. Segundo um estudo publicado no Journal of Pain Research, fatores emocionais e o ambiente do estúdio influenciam significativamente a percepção da dor.

  1. “Tinta preta é mais segura do que colorida”

O mito de que apenas tintas coloridas causam reações alérgicas é infundado. De acordo com a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), qualquer pigmento pode provocar irritação ou reação adversa, caso não seja certificado ou manipulado corretamente. “O mais importante é a procedência do material e a higiene do ambiente”, alerta Tiago.

  1. “Quem tem tatuagem não pode doar sangue”

Esse mito já foi superado em muitos países. No caso de Portugal, o Instituto Português do Sangue permite a doação após um período de 4 meses após a realização da tatuagem. “A tatuagem não impede ninguém de ser solidário. É só respeitar o tempo de espera recomendado”, explica.

  1. “Tatuagem em pele negra não aparece”

“É perfeitamente possível fazer tatuagens em todos os tons de pele. O que muda é a abordagem do desenho, contraste e escolha das técnicas”, explica. Ele aponta que cada vez mais tatuadores têm buscado formação específica para atender com qualidade e diversidade.

  1. “Tatuagem realista não cicatriza bem”

Para Tiago, essa crença está ligada à falta de cuidados no pós-procedimento. “Uma tatuagem bem feita e com os cuidados adequados cicatriza como qualquer outra. O problema não é o estilo, e sim a negligência com hidratação, proteção solar e higiene”, diz.

Além de desmistificar essas ideias, Salgado defende que o diálogo com o cliente é parte essencial do processo criativo e técnico. “O cliente informado toma decisões mais conscientes e aproveita melhor a experiência”, afirma.

Com formação em workshops ministrados por nomes internacionais como Fábio Guerreiro, Neon Judas e Beyker, o artista já foi premiado em convenções como a de Troyes, na França, onde conquistou o segundo lugar na categoria Realismo com um retrato de Jack Sparrow.

Tiago compartilha parte de seu trabalho e agenda em seu perfil no Instagram: @tiagosalgado.tattooer.