Jani, muitos de nossos leitores costumam confundir conceitos de educação financeira, valorizando demais ferramentas, mas pouco comportamento. Você defende que devemos respeitar nosso tempo e nossos sonhos. Como fazer a ponte entre o que queremos e nossa situação financeira hoje?
O segredo é encontrar equilíbrio. Independentemente dos nossos planos para o futuro, é importante ter em mente que podemos ter uma vida curta, e se apenas guardarmos dinheiro essa vida pode se esvair sem termos a chance de aproveitá-la. Por outro lado, se você tiver uma vida longa e desperdiçar dinheiro ao longo do caminho, é provável que você não tenha o suficiente para as coisas mais importantes.
Por isso, uma dica é: estabeleça um número de referência baseado no estilo de vida que você deseja. Qual a renda necessária para que você viva bem, sem preocupações? Esse será o número da sua independência financeira. Com base nesse número é possível calcular quanto você precisa guardar e por quanto tempo. A partir daí, tenha sempre em mente que, primeiro você guarda o necessário para o seu futuro, depois você gasta com o aqui e agora. Com essa mentalidade você vai conseguir aproveitar o presente e garantir o seu futuro com tranquilidade.
Outro ponto importante a destacar é que muitos casais fazem planos para a velhice considerando a renda de ambos, mas não podemos esquecer que a expectativa de vida da mulher é maior que a do homem. Além disso, imprevistos acontecem, e é crucial ter uma rede de segurança para tais situações. Para isso os seguros são importantíssimos, pois diante de eventos inesperados o seu patrimônio se mantém preservado, sem prejuízo da sua saúde financeira na velhice.
Como lidar com a oferta cada vez maior por crédito fácil (e caro) e apelos de consumo que associam nosso bem-estar à impressão que os outros têm de nós? Precisamos nos voltar mais para a família? E as prioridades, parece que as pessoas não as tem mais.
O crédito tem uma função muito específica e deve ser utilizado para esse fim: proporcionar algo necessário e importante que você não poderia adquirir de outra forma. Uma casa própria é um bom exemplo disso. Ou seja, crédito é uma ferramenta que, se utilizada com parcimônia e inteligência, pode sim trazer benefícios.
Porém, existem situações em que utilizar o crédito é inadmissível. Eu vejo pessoas que se endividam com cheque especial ou precisam parcelar as faturas do cartão de crédito, ambos com juros altíssimos, porque perderam o controle das suas vidas e se afundaram em um desejo de consumo desenfreado. Manter as aparências e esbanjar um estilo de vida que vai além da sua capacidade financeira só demonstra imaturidade emocional. Faça o seu melhor para ter uma imagem de sucesso, mas mantenha o foco na sua saúde financeira.
Sim, é fácil se perder, mas aí entram as prioridades, como você falou. Para isso, cada pessoa precisa fazer um exercício interno para entender o que é essencial e importante naquele momento. Eu não posso elencar as suas prioridades, somente as minhas. Porém, antes de fazer escolhas impulsivas, cabe a cada um olhar para dentro de si e decidir se aquilo realmente é o melhor caminho.
Seu relacionamento com o dinheiro existe e acontece de forma intensa desde quando? Conte-nos um pouco mais sobre essa história e o que aprendeu.
Eu comecei a trabalhar e ganhar dinheiro muito cedo. Além disso, sempre fui muito arrojada e corria riscos, o que deu muito certo no meu caso. Por outro lado, ser arrojada corajosa nunca significou ser irresponsável, e uma das estratégias que me dava segurança para arriscar foi sempre ter seguros, tanto para bens materiais como seguro de vida. Eu sempre digo que uma pessoa com um bom seguro de vida pode gastar tudo o que tem – não deve, mas pode, porque a família nunca ficará desamparada.
Cada pessoa deve entender o que funciona melhor para ela, e decidir qual estratégia adotar. Eu sempre vivi muito intensamente e procurei construir uma rede de segurança para o futuro sem abrir mão do presente e sem deixar de ajudar meus pais ou proporcionar o melhor para a minha filha. Além disso, optei por construir um patrimônio material protegido por seguros, enquanto outras pessoas podem escolher uma vida mais focada em multiplicar o dinheiro na conta. Nesse caso, entenda o que faz você feliz e viva como achar melhor, mas sem esquecer que o futuro sempre bate à porta.
Pensando nos leitores que têm ou desejam ter filhos, como essa sua experiência de vida pode ser entendida e praticada por mais gente? Seus pais foram exemplos de cidadania e educação financeira? Sempre gostamos de lembrar a importância do exemplo.
Eu venho de uma família de classe média, e problemas financeiros eram uma constante. Eu me lembro claramente de uma pasta que eles mantinham, com contas a pagar, e todos os meses eles se sentavam na mesa de jantar com aquela pasta para discutir cada conta e como elas seriam pagas. Como uma pessoa proativa, eu cresci pensando em como poderia ajudá-los, e eu também sempre soube que não queria ter uma vida em que, mês a mês, eu precisasse conferir se teria saldo o suficiente para quitar todas as contas. Foi aí que eu tomei a responsabilidade de ser uma pessoa bem sucedida financeiramente.
Ainda lembrando do exemplo dos meus pais, eu aprendi que ser econômico não necessariamente faz com que você acumule riqueza. Não se trata apenas de economizar dinheiro, mas de produzir resultados. O meu pai era muito mais econômico que a minha mãe, mas ela era mais eficiente em termos de formar patrimônio. Não adianta guardar dinheiro se você não sabe como multiplicá-lo, e isso pode ser alcançado sem que uma pessoa se prive dos prazeres do presente – é o que eu falei sobre equilíbrio, no começo desta entrevista.
Hoje, como mãe, eu procuro ser um exemplo positivo e dou educação financeira para a minha filha desde a infância. Hoje, aos vinte e um anos, ela lida com o dinheiro como poucos jovens da sua idade, e a tendência é que ela tenha uma vida ainda mais próspera que a minha.
Claro, entrar no mercado financeiro muito cedo foi extremamente benéfico para mim, pois desde cedo eu aprendi o que deveria fazer com o meu dinheiro. Além disso, ao trabalhar com planejamento financeiro, eu sabia que a minha vida por si só deveria ser um exemplo de sucesso nessa área. É preciso ter cuidado com as pessoas que ensinam o que elas mesmas não conseguem aplicar nas suas vidas, e sabendo disso, eu trilhei o meu caminho para me tornar referência no que eu deveria ensinar.
Para quem está lendo essa entrevista e nunca teve uma base de educação financeira, posso dizer uma coisa: não é tarde para começar. Busque conhecimento da forma que você puder – hoje a quantidade de informação disponível é imensa, e muitos profissionais extremamente qualificados produzem conteúdo online. Pesquise, informe-se através de fontes confiáveis, busque aprender o que não foi ensinado para você. Só não vale ficar parado. Independentemente dos exemplos que você teve na sua infância, cabe a você definir como as coisas serão daqui para frente.