Escrito e interpretado por Liliane Rovaris, Crime e Castigo 11:45 volta ao Rio de Janeiro em curtíssima temporada no Teatro Ziembinski, na Tijuca

Em solo atravessado por músicas de David Bowie, atriz mescla a obra “Crime e Castigo” com a história de seus pais, fazendo uma celebração à vida e aproximando o público ao clássico de Dostoiévksi de forma descomplicada, acolhedora e bem-humorada

Sucesso de público e crítica, “Crime e Castigo 11:45” está de volta ao Rio de Janeiro em curtíssima temporada como parte da programação de reabertura do Teatro Ziembinski, na Tijuca. As apresentações acontecem de 15 a 24 de novembro, às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h.

A peça, que estreou em 2022 no Rio de Janeiro, surge do encontro da atriz Liliane Rovaris com o clássico absoluto do autor russo Fiódor Dostoiévksi (1821-1881). Apesar de já conhecer a obra, a atriz embarcou na releitura, durante o período de luto pela perda de seus pais, motivada intuitivamente por um sentimento de solidão e uma possibilidade de recomeço, ações que encontram eco na trajetória de Raskólnikov, o protagonista do romance.

Assim, tendo como princípio aproximar o livro do público de forma descomplicada, acolhedora e inclusive, bem-humorada, à medida em que Liliane conta a história criada pelo genial autor russo, traça paralelos com histórias sobre seus pais, tornando a ideia do luto um tipo de celebração da vida.

Com uma equipe de criação e produção majoritariamente feminina, a montagem tem texto da própria Liliane Rovaris e direção de Camila Márdila, atriz premiada do filme “Que horas ela volta” e da série “Bom Dia Verônica”, que marca sua primeira direção no teatro. As duas já têm uma parceria de longa data, tendo dividido diversos outros trabalhos, incluindo a realização de espetáculos teatrais e oficinas para atores desde 2013.

Dostoiévski conduz seus personagens com um sentimento de compaixão, mostrando suas contradições sem jamais julgá-los ou encerrá-los em uma definição.

– Em tempos de julgamentos imediatos, parar, observar, esperar o que vem a seguir, antes de decretar algo, foi um alento para mim. O livro foi me dando a calma e a possibilidade de enxergar aquele momento como algo em transição, em transformação – analisa a atriz.

No decorrer da criação, em 2018, Liliane se deparou com a notícia de que Crime e Castigo é um dos livros mais lidos entre os presidiários no Brasil. Em troca de dois dias de liberdade eles apresentam um resumo do livro. E é uma dessas resenhas, publicada na matéria jornalística, que inspira o recorte dramatúrgico da peça: “Dostoiévski narra a história de Raskólnikov, um jovem estudante que comete um duplo assassinato e é perseguido por sua própria consciência até que conhece uma prostituta, Sônia, única pessoa para quem consegue contar sobre o crime cometido”.

É essa trajetória que a artista narra e encena em paralelo com suas próprias memórias, incluindo uma experiência que envolve o ídolo da música, David Bowie, cujas músicas atravessam o solo.

O cenário remete ao quarto dos pais da atriz que, apostando na potência transformadora de se compartilhar uma história, se inspira em peças performáticas, como as de Lola Arias, artista argentina que tem como marca a sobreposição entre realidade e ficção, e como as do norte-americano Spalding Gray (1941-2004), cuja presença vibrante parecia sempre celebrar o milagre de estar ali, no teatro, contando uma história.

Durante o processo, Liliane trabalhou o texto em uma oficina para jovens internos que cumprem medidas socioeducativas no Degase. Através deste contato, a atriz pôde confirmar a importância e a capacidade de interação do livro com diferentes realidades, reforçando a escolha por um caminho direto e acolhedor na forma de contar essa história, fora do lugar erudito e inacessível por vezes atribuído à obra.

– Revelar essa trajetória, que vai da extrema contração do ódio à redenção pela compaixão em tempos de muita intolerância, fez sentir ainda mais forte o desejo de levá-la para o teatro – conta a atriz.

Sobre Liliane Rovaris

Atriz, mestra em Artes Cênicas (UNIRIO), formada pela CAL/RJ e pelo CPT/SP, ministrado por Antunes Filho. Integrante do AREAS Coletivo com quem realizou e atuou na peça “Plano sobre queda”, direção de Miwa Yanagizawa e com quem mantém a pesquisa “Estudo para o ator: a Escuta”. Em 2021 realizou o projeto “De um Dostoiévski a outro”, série de ações online em comemoração ao bicentenário do autor e em 2022 ministrou a oficina de teatro “Um mundo a sonhar” para jovens que cumprem medidas socioeducativas no DEGASE. Com direção de Adriano Guimarães do Coletivo Irmãos Guimarães atuou em “Sopro” de Samuel Beckett e em “NADA – uma peça para Manoel de Barros” (prêmio de melhor elenco do site Questão de Crítica). Também atuou, entre outros, em “A Ponte”, com direção de Adriano Guimarães, em “Naotemnemnome” com direção de Emanuel Aragão, em “Ponto de Fuga” de Rodrigo Nogueira, em “Trainspotting”, dir. de Luis Furlanetto e “Fragmentos Troianos” dir. de Antunes Filho. Foi colaboradora artística da Cia teatro autônomo com direção de Jefferson Miranda na “Série 21” (Espaço Sesc/RJ 2009). No audiovisual, atuou no longa “O Cerco”, de Gustavo Bragança, Aurélio Aragão e Rafael Spínola (mostra de Tiradentes 2021) e em “Infinitas Terras” de Cauê Brandão.

Sobre Camila Márdila 

Atriz e diretora teatral premiada no Festival de Sundance (EUA) e no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro por seu trabalho no filme “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert. Está no elenco de diversas séries como “Justiça”, “Onde Nascem os Fortes”, “Trezes Dias Longe do Sol”, “Feras”, “Onde está meu coração” – todas na Globoplay – além da novela “Amor de Mãe’’, de Manuela Dias. No teatro trabalhou com os diretores Felipe Hirsch, em “A Tragédia e a Comédia Latino-Americanas”, e Irmãos Guimarães (DF), com quem manteve o núcleo “Resta Pouco a Dizer”, dedicado a pesquisas em torno de Samuel Beckett. É integrante do AREAS Coletivo, ao lado de Miwa Yanagizawa, Maria Silvia e Liliane Rovaris, com quem mantém a pesquisa Estudo para o ator: a Escuta, desde 2013, em formato de oficinas, residências e orientações artísticas. É diretora da peça “Crime e Castigo 11:45”, um solo de Liliane Rovaris, que estreou em 2022 e realiza temporada no Sesc São Paulo em 2023. Seus trabalhos mais recentes como atriz foram a série “Bom Dia Verônica” (Netflix), os filmes “Carvão”, de Carolina Markowicz, “Meu Nome é Gal”, de Dandara Ferreira e Lô Politi (estreia prevista para 2023), e “Uma Boa Vilã”, de Teo Poppovic, também em finalização. No momento, está no elenco do novo filme de Walter Salles (Ainda Estou Aqui) e interpretará Viviane Senna em série sobre o piloto na Netflix

Ficha técnica:

Concepção e dramaturgia: Liliane Rovaris a partir da obra de Dostoiévski

Direção: Camila Márdila

Atuação: Liliane Rovaris

Tradução do romance: Paulo Bezerra

Direção de arte: Branca Bronstein e Patrícia Tinoco

Direção de movimento: Denise Stutz

Figurinista: Gabriela Marra

Iluminação: Sarah Salgado

Fotógrafo: Pedro Prado e Thais Grechi

Design gráfico: Ana Carneiro

Direção de produção: Liliane Rovaris

Assessoria de imprensa: Carlos Pinho

Serviço:

Crime e Castigo 11:45, de Liliane Rovaris

Temporada: 15 a 24 de novembro, às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h

Local: Teatro Ziembinski – Rua Heitor Beltrão, s/n, Tijuca, em frente ao metrô São Francisco Xavier

Entrada: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), no local ou antecipada pelo link https://linktr.ee/crimeecastigo1145

Classificação: 14 anos

Duração: 70 minutos

Capacidade: 106 lugares

Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Rede social: https://www.instagram.com/crimeecastigo1145/