Encerramento contábil estratégico: por que novembro é o mês-chave para pagar menos impostos e proteger sua empresa em 2026

Lucro acumulado, distribuição de resultados, pró-labore, reembolsos e revisão de despesas são pontos que precisam ser ajustados ainda neste ano para evitar autuações e reduzir a carga tributária do próximo ciclo fiscal

Se no calendário empresarial dezembro marca o fim do ano, para os especialistas em planejamento tributário, é novembro o verdadeiro mês decisivo. Isso porque, com o fechamento de balanços, projeções fiscais e revisão de documentos contábeis, esse é o período ideal para fazer ajustes estratégicos que impactarão diretamente o imposto de renda a ser pago em 2026.

O problema é que a maioria dos empresários ainda negligencia essa etapa. Segundo levantamento do Sebrae com empresas do Simples Nacional, apenas 23% dos empreendedores fazem algum tipo de planejamento tributário antes do fim do exercício fiscal. O resultado é previsível: carga tributária maior, passivos trabalhistas mal calculados e oportunidades de economia desperdiçadas.

“Novembro é a última janela real para ajustar o lucro, corrigir lançamentos, revisar o pró-labore e organizar a distribuição de lucros de forma segura. Quando isso não é feito agora, vira surpresa no ano seguinte — com multas, autuações ou pagamento maior de imposto”, explica Marcelo Cardoso, sócio da Bastazini Contabilidade.

Com as mudanças trazidas pela reforma tributária e a intensificação do cruzamento de dados pela Receita Federal, esse planejamento se torna ainda mais importante. “Estamos vivendo um momento em que o Fisco tem acesso a praticamente todas as movimentações das empresas, bancárias e fiscais. Pequenos descuidos são rapidamente detectados”, completa.

A importância do encerramento antecipado

A chamada apuração antecipada de resultados, feita antes do encerramento oficial do ano fiscal, permite identificar distorções e fazer correções ainda dentro do exercício. Isso vale especialmente para empresas do Lucro Presumido e Lucro Real, que podem ajustar despesas dedutíveis, provisionar obrigações, avaliar a necessidade de antecipar compras ou investimentos e, principalmente, organizar a distribuição de lucros isentos de IR.

“Muitas empresas distribuem lucros sem considerar a regra básica: é preciso haver lucros comprovados por escrituração contábil regular. Caso contrário, a Receita pode entender que houve distribuição disfarçada de lucros e aplicar tributação de até 27,5% sobre os valores pagos”, alerta Patrícia Bastazini, fundadora do escritório.

Ela reforça que, mesmo em empresas menores ou optantes pelo Simples Nacional, há ações que podem — e devem — ser feitas antes do fim do ano:

  • Reembolso de despesas de sócios devidamente formalizado

  • Revisão de despesas lançadas como pró-labore ou retiradas informais

  • Verificação de lançamentos contábeis com impacto tributário

  • Revisão do estoque para baixa de produtos obsoletos

  • Antecipação de investimentos que podem ser contabilizados em 2025

Um exemplo prático: economia real

Marcelo Cardoso cita o caso de um cliente da Bastazini Contabilidade, uma empresa de serviços recorrentes com crescimento acelerado, que costumava esperar o início do ano para “fechar as contas”. Em 2023, a equipe da Bastazini iniciou o encerramento contábil ainda em novembro e identificou R$ 148 mil em lucros que poderiam ser distribuídos de forma isenta até o fim do ano, além de R$ 37 mil em despesas que estavam sendo registradas incorretamente como retiradas pessoais.

“O cliente teria declarado esses lucros no ano seguinte e, muito provavelmente, acabaria tributado ou autuado. Com o planejamento, conseguimos fazer os ajustes ainda em dezembro e isso trouxe uma economia de quase R$ 40 mil em tributos. Planejamento é isso: resultado real”, explica Marcelo.

Encerramento contábil e acesso a crédito

Outro benefício de fechar o exercício com organização é o fortalecimento da credibilidade da empresa perante instituições financeiras, investidores e fornecedores. Bancos que operam com linhas de crédito para PMEs, por exemplo, exigem balanço atualizado, fluxo de caixa formal e clareza nos resultados.

“Fechar o ano com números confiáveis facilita a obtenção de crédito no início do próximo ciclo, acelera processos de auditoria, facilita entrada de sócios e ajuda a empresa a planejar contratações, expansão e novos investimentos”, aponta Patrícia.

DICAS PRÁTICAS DA BASTAZINI PARA ANTES DO ENCERRAMENTO:

  1. Revise o pró-labore dos sócios: ele precisa estar compatível com o faturamento e os encargos em dia.

  2. Organize os reembolsos de despesas: sócios que bancaram despesas da empresa devem documentar e registrar corretamente.

  3. Avalie a distribuição de lucros: faça isso com base em resultado comprovado na escrituração contábil.

  4. Aproveite despesas dedutíveis: investimentos em tecnologia, consultoria ou capacitação podem ser contabilizados agora.

  5. Atualize saldos de estoque: baixe produtos sem giro para não inflar artificialmente seu lucro contábil.

  6. Peça ao contador um diagnóstico tributário até 15/12: isso ainda te dá tempo de agir.

 Mais do que cumprir obrigações fiscais, o encerramento contábil antecipado é uma ferramenta de proteção e crescimento. Ele permite que o empresário tenha clareza sobre os números reais do negócio e possa tomar decisões estratégicas, inclusive no planejamento do próximo ano fiscal — que será especialmente desafiador com as novas regras da reforma tributária entrando em vigor.

“Quem espera janeiro para resolver a vida está atrasado. Em novembro, a gente antecipa, corrige e projeta. Essa é a contabilidade que protege o patrimônio e sustenta o crescimento”, conclui Marcelo Cardoso.