A profissionalização da engenharia de áudio e o avanço do streaming impulsionam a circulação global de gêneros urbanos brasileiros, abrindo espaço para produtores que dominam estética e técnica
A circulação global da música urbana mudou o lugar do Brasil no mapa cultural. Impulsionado pelo streaming e pelo crescimento da música latina nos Estados Unidos, o funk brasileiro começa a aparecer em estúdios e playlists internacionais com mais frequência. O movimento envolve estética, tecnologia e uma nova geração de produtores que entendem que o som precisa viajar com qualidade técnica para competir fora do país.
Relatórios recentes da Federação Internacional da Indústria Fonográfica apontam que a América Latina segue entre as regiões que mais crescem no mundo em receita musical, puxada pela forte presença do streaming. Nos Estados Unidos, dados da Recording Industry Association of America mostram que a música latina ampliou alcance e se tornou uma das categorias mais consumidas do mercado. O avanço cria espaço para gêneros vizinhos, como funk, trap e outras vertentes urbanas do Brasil.
É nesse ambiente que nomes brasileiros vêm ganhando espaço. Entre eles está Raphael Augusto Godoi Franco de Souza, conhecido como RalphTheKiD, produtor e engenheiro de áudio que atua entre São Paulo e polos internacionais. Ele integra o grupo de profissionais que conectam a identidade do funk com as exigências técnicas do streaming global. Para ele, o desafio atual é equilibrar estética e engenharia. “O funk sempre teve força, mas o mercado internacional exige precisão. Quando a mixagem está ajustada e o loudness respeita os parâmetros das plataformas, o som chega com impacto e clareza”, afirma.
A normalização de volume usada por plataformas como Spotify e YouTube é um dos pontos que mudaram o modo de produzir músicas. Segundo a documentação pública do Spotify, faixas que chegam acima do nível recomendado sofrem redução automática, o que altera o peso de elementos centrais do funk, como o grave. Esse ajuste técnico interfere diretamente no desempenho das músicas em playlists, já que a experiência final do ouvinte pode ser afetada.
Em estúdios de cidades como Miami e Nova York, onde RalphTheKiD vem construindo parte de sua atuação, o padrão de trabalho inclui aferição de dinâmica, organização de frequências e adaptação a diferentes sistemas de reprodução. A exigência técnica é vista como etapa fundamental para a internacionalização do som brasileiro. “A rua cria a energia. O estúdio organiza essa energia para que ela faça sentido em qualquer lugar do mundo”, explica o produtor.

Além da engenharia de áudio, a circulação internacional também passa pela estética. A mistura entre funk, trap, reggaeton e música eletrônica tem se tornado cada vez mais presente na música urbana global, estimulando a criação de sonoridades híbridas. Especialistas afirmam que essa tendência ajuda a romper barreiras culturais e facilita o diálogo entre mercados que, historicamente, operavam de forma mais isolada.
Para quem trabalha com música urbana e quer se aproximar de mercados maiores, três caminhos são considerados essenciais. O primeiro é investir em aprimoramento técnico, com foco em mixagem e masterização alinhadas aos padrões de streaming. O segundo é construir redes de contato em centros criativos que influenciam tendências da música latina. O terceiro é experimentar estéticas híbridas, que ampliam as chances de circulação fora do país.
A internacionalização do funk brasileiro é um processo gradual, mas já aparece nos estudos de comportamento de plataformas e no consumo crescente de música latina em mercados como Estados Unidos e Europa. O trabalho de produtores como RalphTheKiD contribui para essa expansão ao unir técnica, identidade e capacidade de adaptação. À medida que o gênero incorpora padrões globais de produção, aumenta também sua presença em circuitos culturais e econômicos que moldam a música urbana contemporânea.