“Arte Como Crime”: Salvador da Rima lança seu primeiro álbum de estúdio

Projeto conta com participações de MC Neguinho do Kaxeta, MC Cebezinho e mais

No rap nacional, Salvador da Rima é uma voz que não se cala e agora transforma essa intensidade em seu álbum de estreia. “Arte Como Crime”, disponível nas plataformas digitais nesta quinta-feira, 11 de dezembro, marca um momento de virada em sua trajetória. Com 9 faixas e um interlúdio, o disco percorre vivências concretas, reflexões sobre a rua e a responsabilidade de ser ouvido, consolidando o artista em sua fase mais consciente e madura.

“Esse álbum é minha vida escrita sem cortar caminho. É tudo o que eu vi, o que eu tive que aprender, o que a rua me mostrou e o que a música me fez enxergar de verdade. ‘Arte Como Crime’ é minha forma de transformar dor em mensagem e verdade em melodia. Se a arte incomoda, é porque tem algo ali que precisa ser ouvido”, afirma Salvador.

O projeto também ganha profundidade com participações que ampliam seu alcance e atmosfera. Ao lado de MC Cebezinho, Janderson Fundação, Magrão AllFavela e MC Neguinho do Kaxeta, Salvador constrói um panorama sincero da realidade periférica, guiado pela

produção musical de Gustavo Martins, colaborador fundamental para a identidade sonora e narrativa do álbum.

Faixa a faixa

O álbum se abre com “Interlúdio”, uma introdução falada que apresenta o conceito central do projeto e funciona como manifesto. Salvador destaca como desigualdade, cultura periférica e resistência são tratadas pelo Estado, antecipando a proposta do disco: a arte nunca pode e nunca deve ser silenciada.

A partir desse ponto, a transição leva para “Hemisfério Racional”, onde Salvador contrapõe vivência periférica e olhar crítico. Ele narra desigualdade, sobrevivência e consciência com versos como “Nem sempre o lado que fala mais alto é o lado que tem razão”. A produção dá espaço para a palavra, deixando que o discurso lidere o caminho.

A narrativa se aprofunda em “Nunca Estamos Livres”, faixa que discute fé, opressões cotidianas e prisões físicas e simbólicas. Salvador revisita episódios do passado, questiona estruturas e resgata espiritualidade como força de resistência. O refrão resume: “Podem calar nossa voz, mas não nosso pensamento.”

De maneira natural, a memória retorna em “Nascido Pra Liderar”, onde Salvador revisita influências da infância e adolescência; Racionais MC’s, MC Marcinho, Sabotage, Felipe Boladão. É o momento em que o artista mostra como referências moldaram sua visão de mundo e responsabilidade, sintetizada no verso: “Eu cresci ouvindo os bão / Me inspirou pra fazer som.”

A crítica social chega ao ápice em “Governantes”, faixa foco do álbum, com participação de MC Cebezinho. Aqui, Salvador contrasta a realidade da favela com o luxo dos poderes públicos. A denúncia é direta: “Governante do Estado viaja de carro novo / Bebe whisky importado com o dinheiro do povo.” É o ponto mais político do trabalho, onde indignação vira narrativa.

Em seguida, “Arte Como Crime”, com Janderson Fundação e Magrão AllFavela, aprofunda o debate sobre a criminalização da cultura e do corpo periférico. Salvador expõe contradições históricas e desigualdades estruturais, transformando incômodo em reflexão crítica.

A perspectiva pessoal retorna em “Demétrio”, onde o artista aborda precariedade, trabalho informal e pressões econômicas. O verso “Minhas contas chegando no final do mês me sufocando com o imposto do Estado” reflete uma realidade comum à população brasileira, reforçando o caráter humano do álbum.

O clima de denúncia continua em “Diabo de Terno”, que narra a sensação de perseguição, abandono e violência institucional. Salvador contrapõe fé e medo ao lembrar: “Eu bem conheço o desprezo do Estado.” A faixa amplia a atmosfera sombria e política do projeto.

A espiritualidade ganha protagonismo em “Papo com Deus”, ao lado de Neguinho do Kaxeta. É um dos momentos mais emocionais do disco, conduzido pela vulnerabilidade e pela busca por cura. O refrão “Troquei o papo com Deus, Ele me escutou”, reforça que, apesar das adversidades, há força no que não se vê.

Para encerrar, “Não É Uma Música” funciona como conclusão e declaração final do artista. Salvador revisita a própria trajetória no funk, compartilha aprendizados e deixa conselhos ao público: “Não idolatre ninguém, nem mesmo a mim. Ninguém é mais que você.” A faixa reafirma a mensagem que guia todo o álbum: a arte é resistência, identidade e sobrevivência.

Tracklist – “Arte Como Crime”

  1. Interlúdio
  2. Hemisfério Racional
  3. Nunca Estamos Livres
  4. Nascido Pra Liderar
  5. Governantes (feat. MC Cebezinho)
  6. Arte Como Crime (feat. Janderson Fundação & Magrão AllFavela)
  7. Demétrio
  8. Diabo de Terno
  9. Papo com Deus (feat. MC Neguinho do Kaxeta)
  10. Não É Uma Música

Sobre Salvador da Rima

Salvador da Rima se tornou uma das presenças mais potentes surgidas das periferias de São Paulo nos últimos anos. Sua trajetória começou com versos improvisados em transportes públicos e batalhas de rima, onde sua habilidade com as palavras, presença de palco e autenticidade chamaram atenção, construindo sua reputação no cenário underground.

O artista conquistou grande repercussão com o hit “Vergonha Pra Mídia”, ao lado de MC Kevin, MC Ryan SP, MC Lele JP e NOG, que ultrapassou 300 milhões de reproduções, posicionando-o como um dos nomes mais expressivos do rap contemporâneo.

Neste ano, Salvador ganhou reconhecimento nacional ao participar da CPI dos Pancadões, representando a realidade das periferias com firmeza e articulação, consolidando sua imagem como porta-voz legítimo da juventude periférica e defensor da cultura, direitos e visibilidade.

Combinando crítica social, espiritualidade e narrativa periférica, ele se firma como uma referência influente de sua geração. O álbum “Arte Como Crime” sintetiza essa evolução: uma obra sobre sobrevivência, força e identidade, mostrando como a arte continua sendo caminho, escudo e mensagem.

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