O Araribá Jardim Botânico (AJB) receberá, entre 22 de janeiro e 2 de fevereiro, 36 participantes de projetos conservacionistas de 15 países no município de Amparo (SP). Em pauta, a discussão de metodologias e critérios para certificar iniciativas de reflorestamento que garantam a biodiversidade e a criação de um “Padrão Global de Biodiversidade” – projeto criado e encabeçado pela ONG britânica Botanic Gardens Conservation International (BGCI), que tem como parceiros jardins botânicos do mundo todo.
O Araribá Jardim Botânico (AJB) vai realizar, entre 22 de janeiro e 2 de fevereiro, em sua sede em Amparo (SP), um encontro com representantes de 15 países, como mais um passo para o desenvolvimento de um “Padrão Global de Biodiversidade”. A iniciativa, cuja sigla em inglês é GBS (Global Biodiversity Standard), foi idealizada pela ONG britânica Botanic Gardens Conservation International (BGCI) – da qual o AJB é parceiro no Brasil.
A ideia do GBS é desenvolver critérios, práticas e metodologias que garantam a manutenção, estimulem e perpetuem a biodiversidade em projetos de reflorestamento e conservação de matas nativas nos vários biomas do Planeta. O Padrão Global de Biodiversidade surgiu após a constatação, pelo BGCI, que, embora haja no mundo “uma rápida expansão dos plantios de árvores”, não tem existido preocupação com a efetiva manutenção e o estímulo à biodiversidade nesses plantios – que acabam se resumindo a captadores de carbono.
Desta forma, o BGCI idealizou o Padrão Global de Biodiversidade, a fim de “interromper essa crise e reconhecer iniciativas que protejam, restaurem e melhorem a biodiversidade florestal, em vez de acelerar o seu declínio”, diz a ONG.
No encontro em Amparo, município-sede do AJB, 36 participantes vão apresentar relatórios de trabalhos de campo realizados em seus respectivos países de um ano para cá, atualizações gerais, tomadas de decisão e definição de estratégias e ações futuras, informa o diretor do AJB, o educador ambiental Guaraci Diniz, que participou, há um ano, de encontro semelhante no Quênia, África.
Além de Brasil, estarão representados Uganda, Índia, Madagascar, Peru, Reino Unido, Indonésia, Jordânia, França, Estados Unidos, Alemanha, Quênia, Suíça, China (Hong Kong) e Malásia.
Como maior rede botânica e de conservação de plantas no mundo, o BGCI garante ser “a rede mais qualificada para estabelecer um padrão internacional de biodiversidade”. Mais de 850 instituições – principalmente jardins botânicos ao redor do Planeta – e 60 mil especialistas em cerca de cem países estão ligados ao BGCI, seja como membros, parceiros ou colaboradores técnicos.
Quando o Padrão Global de Biodiversidade estiver desenvolvido, projetos de reflorestamento e conservação florestal que de fato atendam a todos os seus critérios ESG (social, ambiental e de governança) receberão a certificação GBS.
O GBS foi inicialmente divulgado em 2021, durante a 26ª Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, Escócia. Desde então, já angariou parceiros técnicos naqueles 15 países para lançar as bases do que seria um ambiente florestal efetivamente biodiverso nos vários biomas pelo mundo. Já na COP28, realizada entre novembro e dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes, o BGCI apresentou ao mundo o GBS, explicando o objetivo da certificação e os avanços obtidos até aqui no sentido de incentivo à conservação da biodiversidade florestal.
No Brasil, o Araribá Jardim Botânico – situado no Sítio Duas Cachoeiras, que abriga também a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Duas Cachoeiras, em Amparo – é o representante do BGCI para o GBS. Em 2021, a RPPN Duas Cachoeiras recebeu da Unesco o título de “Posto Avançado da Reserva da Biosfera do Programa Homem e Natureza”.
Guaraci Diniz e a equipe técnica do AJB já visitaram áreas de conservação florestal no Brasil nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, com o objetivo de conhecer as áreas de reflorestamento e validar a metodologia de campo em projetos de restauração ecológica, no que diz respeito à manutenção efetiva da biodiversidade.
Neste sentido, Guaraci Diniz observa que há áreas de recomposição florestal aparentemente biodiversas, mas que só utilizam, por exemplo, espécies pioneiras da Mata Atlântica, que são de crescimento rápido, garantem efetiva cobertura florestal, porém têm “vida curta”. “São iniciativas mais preocupadas na fixação imediata de carbono no solo do que propriamente em garantir que a floresta recomposta de fato se perpetue com biodiversidade plena”, comenta. Há, também, casos de florestas formadas com árvores pioneiras, secundárias e clímax, mas em um número baixo de espécies, o que também não garante o estímulo à biodiversidade. “Por fim, existem projetos que simplesmente excluem a população local dos seus benefícios socioambientais e o GBS também levará os habitantes do entorno, no sentido de integrá-los ao projeto”, diz Guaraci Diniz.
Esta mesma realidade tem sido encontrada nos países parceiros do projeto, garante Guaraci Diniz. “Justamente por isso a reunião anual do GBS, no AJB, pretende chegar a um senso comum sobre como preservar a biodiversidade do Planeta com critérios efetivos”, finaliza.
SOBRE O BGCI – O Botanic Gardens Conservation International é uma ONG fundada em 1987, no Reino Unido, com o objetivo de unir os jardins botânicos do Planeta numa rede global para a conservação de plantas. Seu objetivo é apoiar e capacitar os membros e a comunidade conservacionista em geral para frear a ameaça de extinção de espécies florestais. A visão do BGCI é um mundo em que a biodiversidade vegetal seja valorizada, segura e apoie toda a forma de vida.
SOBRE O AJB – O Araribá Jardim Botânico (AJB) foi fundado em 2016, pelo educador ambiental Guaraci Diniz, com o objetivo de conservar e estimular a biodiversidade da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Duas Cachoeiras, situada no Sítio Duas Cachoeiras, em Amparo (SP). Além disso, promover trocas com outros jardins botânicos e interessados em conservação ambiental e servir como abrigo para projetos ligados à preservação da Mata Atlântica, bioma no qual está inserido. Já conta, desde então, com projetos feitos em parceria com o BGCI, a suíça Fundação Franklinia, de preservação de espécies nativas da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, e a Unicamp, entre outros. Também integra a Aliança Brasileira de Jardins Botânicos e é parceiro do BGCI no projeto do Padrão Global de Biodiversidade.