A televisão aberta, que outrora era a principal fonte de entretenimento infantil, enfrenta uma dura realidade: a escassez de programas educacionais e divertidos voltados para as crianças. Programas como o Bom Dia & Cia e a TV Globinho, que faziam parte do cotidiano matinal de muitos pequeninos, deram espaço para uma programação voltada ao público mais velho, ofertando desenhos animados apenas em alguns horários específicos do final de semana e em canais cada vez mais reduzidos.
Com o crescimento dos serviços de streaming e a ascensão de canais pagos, a oferta de conteúdo voltado ao público jovem na TV aberta diminuiu consideravelmente. Este cenário tem levado as crianças a buscarem alternativas na internet, transformando celulares e tablets em suas principais fontes de entretenimento. Dados da pesquisa feita pelo Hospital Infantil de Alberta (Canadá) e as Universidades de Calgary (Canadá) e College Dublin (Irlanda) apontaram que o tempo de tela saltou de cerca de 162 minutos por dia antes da pandemia para 246 minutos durante e após esse período.
Diante desse cenário, um exemplo notável desse fenômeno é o sucesso da família Poti Poti, composta pelo comerciante Júnior Marinho e sua filha Elloá, de 7 anos. Com um humor acessível e leve, eles abordam temas cotidianos da comunidade evangélica em vídeos que conquistaram uma audiência massiva nas redes sociais. Atualmente, o grupo caminha para a marca de 2 milhões de seguidores em plataformas como Instagram, TikTok, Facebook e YouTube. “Humor sem apelo para mim é algo natural, porque essa é a minha vida de Cristão”, afirma Marinho, ressaltando a importância de transmitir mensagens positivas sem a utilização de palavrões.
Em um mundo onde aproximadamente 60% das crianças de 9 a 10 anos estão ativas em redes sociais que exigem idade mínima de 13 anos, a qualidade do conteúdo consumido se torna uma preocupação. Embora a internet ofereça uma variedade de opções, nem todas são apropriadas ou educativas. Isso torna ainda mais relevante o trabalho de criadores de conteúdo como os Poti Poti, que utilizam o humor para abordar questões sociais e religiosas de maneira reflexiva.
Além deles, Luccas Neto tem se destacado como uma das figuras mais influentes no universo do entretenimento infantil online. Seu conteúdo, que mistura diversão e aprendizado, atrai milhões de visualizações e reafirma a demanda por programação que dialogue com a linguagem das crianças.

Destaque que exige responsabilidade
No entanto, a popularidade de criadores como Marinho e Neto também traz à tona a responsabilidade que vem com a criação de conteúdo para esse público. Recentemente, a empresa Meta, responsável por plataformas como Instagram e Facebook, anunciou mudanças em suas políticas de moderação, destacando a importância de um ambiente seguro para os jovens usuários.
Segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (Cetic.br), 24% dos entrevistados disseram ter começado a se conectar à internet antes dos 6 anos de idade. Em 2015, esse percentual era de 11%. Diante dessa nova realidade, pais e responsáveis devem estar atentos às escolhas dos pequenos, buscando sempre conteúdos que eduquem e divirtam. O sucesso de iniciativas como “Os Poti Poti” evidencia a necessidade de uma abordagem mais cuidadosa e inovadora no entretenimento infantil, algo que a televisão aberta, por ora, parece ter deixado para trás.
“Como pai e criador de conteúdo, sei que é essencial tomar muito cuidado com o que passamos para as nossas crianças. E busco essa qualidade em cada detalhe do que produzimos, porque é uma grande responsabilidade. Por isso, quem sabe um dia, eu gostaria de poder levar esse formato para a TV aberta, pois acho que todas as crianças merecem esse humor leve, educativo e que seja feito de acordo com a realidade em que vivemos”, finaliza Júnior Marinho.