Compreender a conduta e modo de agir do ser humano, dando ênfase nas emoções e formas de interação entre as mais diversas emoções e pensamentos é algo que se tornou possível a partir da psicologia comportamental. Conhecer estes conceitos e saber tratá-los traz benefícios pontuais permitindo, por exemplo, que estratégias mais específicas sejam elaboradas para melhoria de relações interpessoais.
As incógnitas e tantas possibilidades relacionadas a área foram fatores relevantes para a escolha da profissão de Letícia de Oliveira, psicóloga fundadora do Núcleo Comportamental Letícia de Oliveira. Atuando também como influenciadora digital nas redes sociais, Letícia foi inspirada por sua tia durante o processo de definição de qual carreira seguir: “sempre amei ouvir as histórias das pessoas e ter uma tia psicóloga serviu de inspiração para mim”, comenta.
Atualmente, Letícia é responsável pelo “Núcleo Comportamental Letícia de Oliveira” e concilia suas atividades diárias com a produção de conteúdo para seu Instagram @psicoleticia. Além disso, a psicóloga e digital influencer fez participações espaciais no Programa “É de Casa”, da Globo, que impulsionaram a sua carreira. Ampliar o Núcleo Comportamental e criar materiais online ensinando psicólogos a prática clínica são algumas de suas metas declaradas.
Sob o olhar da psicologia, Letícia de Oliveira realizou sua análise do filme “O Coringa”, lançamento do ano de 2019 e sucesso a nível mundial: “se você ainda não assistiu, corre porque vale a pena conferir!”, recomenda.
A psicóloga ressalta o papel fundamental desempenhado pelo filme ao demonstrar questões cotidianas e suas relações com a manifestação de psicopatologias: “gostei bastante da abordagem dada através do filme para esta questão, mostrando como a história de vida e a sociedade tem um papel fundamental desde o surgimento até etapas posteriores”, comenta.
Letícia de Oliveira destaca alguns dos principais pontos observados a partir da produção cinematográfica:
A história de um dos vilões mais interessantes da história em quadrinhos tem início com o personagem Arthur, um homem solitário, que tem como propósito de vida cuidar de sua mãe. Ao longo do tempo, questões como a indiferença das pessoas com relação a ele e o bullying no trabalho, no metrô e na rua, vão sendo notadas e tornam-se marcantes.
Para Arthur, ações básicas como ser bem tratado acabam se tornando alvo de fantasia: frequentemente ele se deixa levar por sua imaginação, criando situações em que é reconhecido e amado. Torna-se evidente o quanto a maior parte das pessoas menospreza quem elas julgam ser diferente de um padrão pré-determinado.
O filme destaca as dificuldades enfrentadas, por pessoas de alguma forma menos favorecidas, para inserção no mercado de trabalho. Sob meu olhar de psicóloga, acredito que o personagem Arthur sofra de um transtorno neurológico que nomeamos “afeto pseudobulbar”, um tipo de transtorno neurológico que faz com que a pessoa tenha crises de risos e choro de forma involuntária e incontrolável, na maior parte das vezes de maneira desproporcional à situação.
A junção desses fatores acaba causando estranhamento e trazendo ainda mais dificuldade pra sua convivência social. Na história a mãe de Arthur, que trabalha como palhaço, o chama de “Feliz”. Ironicamente, Arthur diz nunca ter se sentido feliz.
Existe uma crítica grande com relação ao acolhimento dos pacientes. No filme, Arthur questiona a assistente social em relação ao seu atendimento, afirmando que a profissional só faz perguntas protocolares, sem de fato querer saber como ele se sente.
Toda esta história começa a ganhar um rumo diferente quando Arthur decide se defender após ser agredido mais uma vez, ocasionando na morte de 3 pessoas. Ao virar notícia nos principais jornais e veículos de comunicação, Arthur finalmente começa a se sentir bem: até então ele nunca havia sentido a sensação de ser importante.
Descobrir que a mãe é psicótica e que ele foi adotado, são questões que acabaram reforçando a ideia, na cabeça de Arthur, de que fazer o mal vale mais a pena do que fazer o bem. O filme mostra como a sociedade está sempre em busca de um ídolo, mesmo que esta pessoa tenha cometido crimes gravíssimos (a sociedade se sentiu vingada por ele).
Apesar da história de vida não justificar os atos de Arthur, fica evidente o quanto nossa relação com nossos pais, com nosso ambiente, socialização, e finalmente nossa necessidade de reconhecimento são gatilhos para uma possível manifestação de uma dada patologia.