João Vancini detalha a experiência de atuar na novela que lançou a dramaturgia vertical no país

A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário atinge 500 milhões de views e inaugura o modelo de novela pensada para o celular, exigindo novas dinâmicas de atuação e de narrativa.

O marco de 500 milhões de views alcançado por A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário consolidou um feito raro na teledramaturgia brasileira: a criação de uma novela desenvolvida desde o início para ser consumida em formato vertical, assistida majoritariamente no celular. O resultado não apenas reflete o consumo contemporâneo de conteúdo audiovisual, como aponta um reposicionamento do país em um formato até então pouco explorado internamente.

Diferente de adaptações curtas ou conteúdos derivados de TV, a produção foi estruturada desde o roteiro para um ritmo objetivo, cenas mais diretas e uma interpretação baseada em reações humanas menos expansivas. O ator João Vancini, que integra o elenco, comenta que atuar nesse formato exige outro tipo de leitura sobre o que significa “estar em cena”.

“A principal mudança é que o foco fica mais claro. Não existe espaço para exagero ou para preencher a cena com ações que não servem à história. A interpretação fica mais direta, mais limpa.”

Segundo João, o processo não reduz a complexidade do trabalho do ator, mas reorganiza prioridades. Sentimentos, conflitos e intenções continuam presentes, porém sem excesso de movimento ou de expressão. O objetivo é ir ao ponto, sem distrações. Ele explica que, com esse tipo de linguagem, a atuação precisa ser conduzida de maneira mais objetiva, com ações precisas e sem a tentativa de “mostrar tudo”.

“A gente aprende a confiar no necessário. Ouvir, reagir e fazer o que o personagem pede sem acrescentar o que não precisa estar ali. Isso dá um ritmo diferente. A história aparece com mais clareza.”

Impacto narrativo e disputa global

O formato vertical não é apenas uma tendência tecnológica, mas uma resposta direta ao comportamento do público, que consome conteúdo enquanto se desloca, trabalha ou divide a atenção entre outras tarefas. A novela explora justamente esse cenário, com cenas que funcionam no ritmo do cotidiano digital, sem perder densidade emocional.

Ao apostar nesse modelo, a produção brasileira amplia suas possibilidades de circulação internacional e disputa espaço em plataformas que já adotam produtos seriados de curta duração. Com a popularização de narrativas nativas de celular, a dramaturgia passa a competir em outra escala — não mais apenas por tempo de tela, mas por tempo de atenção.