Posicionamento e clareza de papéis: o que está por trás da boa convivência e da gestão eficiente em condomínios

Em condomínios onde vivem 80 milhões de brasileiros, a clareza nos papéis é essencial. A advogada Vanessa Munis explica como isso fortalece a gestão, reduz conflitos e valoriza o patrimônio.

A vida em condomínio já representa uma das formas de moradia mais relevantes do país. Segundo dados divulgados pelo Diário Indústria & Comércio com base em levantamento da Associação Brasileira de Síndicos Profissionais (ABRASSP, ago/2024), cerca de 80 milhões de pessoas vivem em mais de 520 mil condomínios no Brasil. Esse ecossistema crescente movimenta administradoras, fornecedores, prestadores de serviços, fundos de investimento imobiliário e uma cadeia econômica de alto impacto.

No entanto, apesar da estrutura profissionalizada, o maior desafio permanece humano. A Sindiconline (2023) identificou que 70% dos conflitos condominiais são comportamentais, ligados à postura, comunicação e convivência — não a questões financeiras ou estruturais. Já o levantamento da ABRASSP (out/2025) destaca um aumento nas tensões relacionadas à transparência financeira, responsável por 37% dos conflitos recentes. Além disso, entre 2022 e 2024, ações judiciais relacionadas a assédio moral e perseguição em ambientes condominiais cresceram 22%, de acordo com relatório da associação (nov/2025).

Para a advogada e síndica certificada Vanessa Gantmanis Munis Paione, o ponto estruturante está na definição clara dos papéis desempenhados por cada agente dentro do condomínio:

“O condomínio é uma comunidade organizada. E toda comunidade funcional depende de papéis bem definidos. Quando síndico, conselho, moradores e colaboradores entendem suas responsabilidades e limites, a convivência se estabiliza e a gestão se fortalece. Quando há sobreposição ou confusão de funções, o conflito se torna inevitável.”

Posicionamento Consciente: o papel de cada agente no condomínio

O entendimento de cada papel dentro do condomínio é essencial para transformar o espaço em um ambiente organizado, seguro e produtivo. Cada agente possui responsabilidades específicas que fortalecem a convivência, a gestão e o patrimônio:

    • Síndico: Lidera a gestão e atua como mediador. Mantém transparência, comunicação clara e educação da comunidade. Deve evitar decisões reativas ou personalizadas em conflitos.

    • Morador / Coproprietário: Participa ativamente das assembleias e usa canais oficiais para fiscalizar e sugerir melhorias. Deve respeitar o regimento interno e cuidar do patrimônio coletivo. Evitar tratar o condomínio apenas como prestador de serviço ou bypassar a gestão.

    • Conselheiro: Fiscaliza e orienta com base em dados e legislação. Deve oferecer feedback construtivo e alinhado ao interesse coletivo. Evitar oposição política ou pessoal permanente.

  • Colaboradores e Prestadores: Atuam tecnicamente, respeitando confidencialidade e o contexto social do condomínio. Devem reportar problemas à gestão e propor soluções dentro de suas funções. Evitar decisões autônomas ou participação em “fofocas” ou disputas internas.

“Posicionamento não é hierarquia. É estrutura. Quando cada agente compreende seu papel, o condomínio evolui de ambiente reativo para sistema organizado.” — Vanessa Munis

Essa clareza impacta diretamente a eficiência administrativa, a previsibilidade orçamentária, a prevenção de litígios e a valorização patrimonial e imobiliária. Condomínios onde cada agente compreende seu papel e as regras são respeitadas tendem a se valorizar acima da média do mercado, atrair novos moradores, reduzir rotatividade e ampliar a percepção de segurança e qualidade de vida.